11/10/2014

Será que voltaremos à estaca zero?




Eu até entendo quando ouço um rico proprietário defendendo o voto no Aécio. É da natureza humana defender o seu quadrado, garantir os seus interesses. Sei o que está por trás do seu apoio, especulo suas reais intenções. Sei que para ele é inconcebível ter que diminuir seu lucro aumentando o salário mínimo ano após ano, ter que gastar para garantir mínimas condições de trabalho ou não conseguirá reter mão de obra. Peão tendo opção? Absurdo.

Entendo também as dondocas esnobes, que odeiam a crescente dificuldade de encontrar escravas domésticas, dispostas a se sujeitar 24h por dia aos seus caprichos, em troca de qualquer migalha. Odeiam ter que dar férias, pagar FGTS, INSS e salário mínimo para ter uma empregada doméstica. Abominam o fato de que suas ex-escravas têm direitos trabalhistas, que registrem ponto e - pasmem! - recebam pelas horas extras! Sem falar no grande sacrilégio de terem que conviver com essa gente diferenciada nos aviões e aeroportos. O jardim do Éden foi invadido.

Mas não entendo quando vejo a população recém promovida a classe média nesse alvoroço de ˜Fora PT˜.

Não me diga que é pela corrupção, pois esta sempre existiu e sempre existirá em tudo que for humano. As mamatas do PSDB não são menores que as do PT e demais partidos, os casos da privatização da Vale e do metrô de São Paulo são só pequenos exemplos. Pior, a grande maioria dessas pessoas que brada não suportar mais corrupção usufrui dela no seu cotidiano - falsifica carteira de estudante, dá propina ao agente de trânsito, sonega imposto de renda, etc. Pelo menos os malfeitos no atual governo estão sendo investigados, expostos e punidos. Coisa que não acontecia antes.

Não venha me falar em golpe comunista, porque não há nenhuma espécie de ameaça à propriedade privada no Brasil. Nem balela de Porto de Cuba - se um país sofre bloqueio comercial de um, compra de outro. Quem investe nessa situação amplia seu alcance comercial e político. E o comércio não está nem aí para ideologias, nem na China nem na Rússia tive dificuldades para encontrar Starbucks e McDonalds. Foi uma boa aposta? Só o tempo dirá, mas todos os governos erram e acertam.

E não, o BNDES não distribui dinheiro, ele empresta e recebe de volta. Nem os bancos públicos estão quebrados, muito pelo contrário, fomentam o crescimento, dão lucros maiores ano após ano, obrigam os bancos privados a diminuírem suas taxas, incentivam o crédito quando os especuladores fecham as torneiras. E incomodam os bancos privados, muito. A Caixa está no calcanhar do Bradesco para tomar seu 3o lugar entre as instituições brasileiras, e isso incomoda bastante.

Não aceito essa balela de “precisamos de alternância no poder”. PSDB por 24 anos sucateado São Paulo pode, PT por 12 anos não pode. Aos paulistas, estou pouco me lixando: sofram da Síndrome de Estocolmo à vontade, abraçados aos seus algozes no cativeiro. Só não me venham com seu discurso preconceituoso e cheio de ódio, com essa filosofia barata. Quem elege Marcos Feliciano com votação recorde não tem direito de criticar o voto de ninguém.

Aí falam que quem vota na Dilma vota por ignorância. Certamente é por isso que temos 95% dos reitores das Universidades Federais apoiando-a. Gente muito ignorante, claro.

Mas o que eu não entendo mesmo é como essa recém promovida classe média perdeu a capacidade de lembrar. Porque eu lembro.

Lembro que 10 anos atrás era muito difícil alguém que não fosse de família abastada fazer uma faculdade. Hoje, com toda sinceridade, não conheço uma única pessoa que diga que quer fazer um curso superior e não tem oportunidade. Seja através do FIES, seja através da expansão das universidades federais. Só em Alagoas, nos últimos anos, a UFAL ganhou campi em todas as regiões do estado. Nunca vi tantos estudantes e pesquisadores ganhando bolsas para desenvolver seu trabalho. Conheço pessoalmente pelo menos 5 pessoas que estão em grandes universidades do mundo pelo Ciências sem Fronteiras - e se você está num desses programas mas não está estudando, sinto muito, o corrupto é você.

Lembro que 10 anos atrás nunca tinha ouvido falar num casal em que cada um ganhasse um salário mínimo tivesse conseguido financiar sua casa própria, pagando uma prestação aceitável e sabendo que conseguiriam chegar até o final. Hoje vejo isso todos os dias.

Lembro como era absurda a ideia de viajar de avião. Fui a São Paulo a primeira vez de ônibus, dois dias na estrada. E entrei num avião pela primeira vez com 25 anos. Felizmente, depois disso não parei mais, meus amigos são testemunhas. Pude viajar pelo mundo, e encontrar tantos brasileiros viajando pelo mundo também, em quantidades prodigiosas. E perceber que tantos outros brasileiros, que tinham migrado, estavam voltando para casa, em número inédito.

Falam que a situação está ruim, que vai tudo desabar, que está tudo uma desgraça. Mas o que vejo são as pessoas trabalhando, estudando, produzindo, melhorando de vida, deixando de passar fome, deixando de sofrer humilhações, ganhando cidadania, pouco a pouco aprendendo que podem e merecem mais.

Sei o que está por trás do mimimi das elites, mas é uma pena ver que esses trabalhadores que melhoraram de vida esqueceram tão rápido de onde vieram e por onde passaram. E, caso apoiem e elejam o Aécio, vão pagar um preço alto por isso: voltar para a estaca zero.

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