22/08/2014

Voos e Sinos e Misteriosos Destinos - Emma Trevayne

Dica de livro de hoje:

Voos e Sinos e Misteriosos Destinos - Emma Trevayne

Nesta fábula moderna, com gosto das aventuras clássicas que encantam os jovens leitores há tantos anos, conhecemos a história de Jack Foster, um garoto de dez anos que, como qualquer um da sua idade, sonhava viver grandes aventuras. Ele morava em Londres mas estudava em um colégio interno, voltando para casa apenas nas férias, quando ficava completamente entediado.

Mas, um certo dia, Jack atravessa uma porta mágica e, do outro lado, encontra uma cidade ao mesmo tempo muito parecida e muito diferente daquela que conhecia. Em Londinium, apesar de reconhecer as ruas e prédios, ele encontra um cenário steampunk, com engrenagens e fuligem por todos os lados. Por ali era raro encontrar alguém que não tivesse nenhuma parte do corpo feita de metal.

E era justamente isso que a Senhora - uma mulher rígida e temperamental que governava a cidade desde sempre - buscava: um filho de carne e osso. Jack logo descobre que aquele lugar era extremamente perigoso, e que voltar para casa não seria tão fácil quanto tinha sido chegar até ali...

21/08/2014

Lucidez na rede


Este é um ano fascinante para quem ama política como eu. Mas também um ano para destroçar os nervos. 

É também um ano no qual me vi constantemente jogado de um lado para o outro. Há algumas semanas, manifestei imenso descontentamento com Dilma em função da abertura à bancada evangélica e, inclusive, anunciei que não conseguiria votar nela naquelas circunstâncias. 

Embora seja comum que me chamem de "petista", não posso me considerar um. Há vários quadros do PT que me desagradam e que jamais teriam meu apoio. Não acho, por exemplo, que Lindbergh Farias seja um candidato digno de apoio ao governo do Rio (o que apenas deixa o povo do estado numa situação ainda mais desesperadora, já que não contam com um único candidato viável que preste). Lamentei imensamente ver Fernando Pimentel abraçando Newton Cardoso em MG e, por esta razão, não estou certo de que lhe concederei meu voto (mesmo abominando Pimenta da Veiga). Minha posição é sempre de esquerda - às vezes mais, às vezes menos -, mas o PT não é necessariamente minha primeira escolha nas eleições (e já cansei de votar em outros partidos para a prefeitura de BH e para os cargos de vereador e deputados estadual e federal).

Por outro lado, defendi a candidatura de Lula em 1989 (mesmo quando não tinha título de eleitor) e votei nele em todas as campanhas subsequentes. Também votei em Dilma em 2010. E, até anunciar que não poderia mais votar nela, há algumas semanas, estava certo de que votaria por sua reeleição.

Pois não sou político. Não consigo aceitar facilmente a ideia do pragmatismo. Opto sempre pela ideologia pura, mesmo que pouco prática. E, assim, mesmo que me dissessem que Dilma flertar com a bancada religiosa era um gesto eleitoral, eu não achava fácil aceitar isso.

Aliás, ainda não acho. 

Porém, algo mudou. Este "algo" se chama Marina Silva.

Quando falei que não me sentia à vontade para votar em Dilma, semanas atrás, vários leitores perguntaram se eu votaria então em Aécio ou Eduardo Campos. Respondi que jamais votaria em Aécio ou numa chapa que tivesse Marina Silva.

E agora Marina é presidenciável. Não há mais o escudo da razão representado por Campos e por ótimos quadros do PSB. E a ameaça crescente da teocracia me assusta. Marina Silva diz que vai defender o Estado laico. Sei. Assim como Feliciano defendeu os Direitos Humanos - e vale lembrar que Marina DEFENDEU este último quando foi atacado por suas posições na CDH. 

Lembrando que Marina é a candidata que disse que não era criacionista, mas que Deus é responsável por tudo, até pelas ideias de Darwin. E também lembrando que Marina disse não ter entrado no avião por "providência divina". Providência esta que não ligou pra Campos, pelo visto - e se há algo que me apavora é alguém com complexo de Messias, de "predestinação".

Assim, com Marina com chances de vitória (e a única alternativa viável sendo Aécio), volto a defender a candidatura de Dilma. Ciente, porém, de que, Dilma reeleita, vou bater insistentemente na tecla das portas fechadas para o lobby evangélico, que não deve ter espaço por representar um atraso social ao misturar dogmas irracionais com pautas de comportamento e jurisprudência inaceitáveis. (Alem disso, essa mídia reacionária é nojenta demais. Meu voto é também de oposição a ela.)

Estamos em 2014. As mulheres DEVEM ter palavra final sobre o próprio corpo, os homossexuais não podem mais viver à margem da sociedade, os avanços científicos não podem ser impedidos por credos infantis. 

Mas volto a isso após as eleições.

E por que torno meu voto público (prática que repito em todas as eleições)? Por respeito aos meus leitores. Abomino atitudes de certas celebridades/jornalistas/vlogers que insistem em se apresentar como "imparciais" enquanto criticam insistentemente apenas um candidato e elogiam outro. Isto é tratar aqueles que os seguem como imbecis, como massa de manobra.

Prefiro desapontar aqueles que acreditam que meu voto é inaceitável (pois estes já tendem a se afastar de meus escritos mesmo) do que desrespeitar aqueles que, mesmo discordando, respeitam minha posição (e embora admire certas bandeiras de Luciana Genro, por exemplo, percebo que tenho que aprender certo pragmatismo e compreender que, neste momento, qualquer voto em outro candidato representa, na prática, um voto para Aécio ou Marina).

Assim sendo, se você é leitor(a) do que escrevo, agradeço pela honra e, como sinal de respeito, deixo claro que meu voto em 2014 é de Dilma Rousseff. Se acha difícil lidar com isso... nos vemos após as eleições. 

Até lá, um grande abraço e bons filmes. E aos que ficam... obrigado mais uma vez por sua presença em minha vida profissional.

PLANETA DOS MACACOS: O CONFRONTO

 Dica de cinema de hoje:

Uma década depois dos eventos de "Planeta dos Macacos: A Origem", "O Confronto" mostra um mundo onde os humanos foram quase dizimados pelo vírus lançado naquela época.


Os sobreviventes mantêm uma paz temporária com os macacos, liderados por Caesar, mas isso está prestes a mudar e dar lugar a uma guerra entre as raças pelo domínio da Terra.







Direção: Matt Reeves
Elenco: Andy Serkis, Gary Oldman, Jason Clarke, Keri Russell
Nome Original: Dawn of the Planet of the Apes
Ano: 2014
Duração: 130 min
País: EUA
Classificação: 14 anos
Gênero: Aventura

20/08/2014

Ditadura: Míriam Leitão conta como, grávida e nua, foi torturada com jiboia

Muito estranho essa jornalista ter passado por experiência tão traumática e tornar-se o que ela tornou-se hoje.

Por Mário Magalhães

Por muito tempo, a jornalista Míriam Leitão não quis contar como foi sua prisão na época da ditadura. “Para não parecer que me vitimizo'', Míriam me disse há pouco.

Com altivez, ela denunciou os torturadores quando foi interrogada na Justiça Militar, nos anos 1970. Como tantas militantes que combateram a covardia, Míriam é mulher de verdade.

Uma das virtudes dos grandes repórteres é a persistência. E Luiz Cláudio Cunha é um grande repórter. O gaúcho persistiu e convenceu a mineira a falar sobre a quadra sombria em que penou nas mãos da barbárie.

Grávida, Míriam foi torturada nua. Trancaram-na com uma cobra.

É muito provável que um dos seus algozes tenha sido Paulo Malhães, o coronel do Exército morto meses atrás, depois de revelar atrocidades perpetradas contra seres humanos indefesos que ele e seus comparsas torturaram e mataram.

O depoimento histórico de Míriam Leitão a Luiz Cláudio Cunha e a reportagem que acompanha as memórias da ex-presa política estão no site do “Observatório da Imprensa'' (aqui).

Abaixo, o blog publica o que Míriam narrou a Luiz Cláudio:

( O blog está no Facebook e no Twitter )

*

'Eu sozinha e nua. Eu e a cobra. Eu e o medo'

Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo, 3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto, estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía.

Eu tinha dado quatro plantões seguidos na redação da rádio Espírito Santo e já tinha quase um ano de profissão. Eu vestia uma camisa branca larga, de homem, sobre o biquini vermelho. Caminhando pela Rua Sete em direção à praia, alguém gritou de repente:

– Ei, Marcelo?

Nos viramos e vimos dois homens correndo em nossa direção com armas. Eu reconheci um rosto que vira em frente à Polícia Federal. Meu ônibus sempre passava em frente à sede da PF e eu tentava guardar os rostos.

– É a Polícia Federal – avisei ao Marcelo

Em instantes estávamos cercados. Apareceram mais homens, mais um carro. Voltei a perguntar:

– O que está acontecendo?

Eles nos algemaram e empurraram o Marcelo para o camburão. Era uma camionete Veraneio, sem identificação. Eu tive uma reação curiosa: antes que me empurrassem sentei no chão da calçada e comecei a gritar, a berrar como louca, queria chamar a atenção das pessoas na rua. Mas ainda era cedo, manhã de domingo, havia pouca gente circulando. Achava que quanto mais gente visse aquela cena, mais chances eu teria de sair viva. Como eu berrava, me puxaram pelos cabelos, me agarraram para me colocar no carro. Eu, ainda com aquela coisa de Justiça na cabeça, reclamei:

– Moço, cadê a ordem de prisão?

O homem botou a metralhadora no meu peito e respondeu com outra pergunta:

– Esta serve?

As algemas eram diferentes, eram de plástico, e estavam muito apertadas, doíam no pulso. Viajamos sem capuz, eu e Marcelo, em direção a Vila Velha, onde fica o quartel do Exército. Eu ainda achava que não era nada comigo, que o alvo era o Marcelo. Ele estava no quarto ano de Medicina e tinha acabado de liderar a única greve de estudantes do país daquele ano, que trancou por dois dias as aulas na universidade de Vitória e paralisou os trabalhos no Hospital de Clínicas. Achei que estava presa só porque estava indo à praia com o Marcelo.

A Veraneio entrou no pátio do quartel, o batalhão de infantaria. Nos levaram por um corredor e nos separaram. Marcelo foi viver seu inferno, que durou 13 meses, e eu o meu. Sobre mim jogaram cães pastores babando de raiva. Eles ficavam ainda mais enfurecidos quando os soldados gritavam: “Terrorista, terrorista!”. Pareciam treinados para ficar mais bravos quando eram incitados pela palavra maldita. De repente, os soldados que me cercavam começaram a cantar aquela música do Ataulfo Alves: “Amélia não tinha a menor vaidade/ Amélia é que era mulher de verdade”. Só então percebi que minha prisão não era um engano. “Amélia” era o codinome que o meu chefe de ala no PCdoB tinha escolhido pra mim: “Você, a partir de agora, vai se chamar Amélia”. Quis reagir na hora, afinal não tenho nada de Amélia, mas não quis discordar logo na primeira reunião com o dirigente.

O comandante do batalhão era o coronel Sequeira [tenente-coronel Geraldo Cândido Sequeira, que exerceu o comando do 38º BI entre 10 de março de 1971 a 13 de março de 1973], que fingia que mandava, mas não via nada do que acontecia por lá. O homem que de fato mandava naquele lugar, naquele tempo, era o capitão Guilherme, o único nome que se conhecia dele. Ele era o chefe do S-2, o setor de inteligência do batalhão. Todos os interrogatórios e torturas estavam sob a coordenação dele. Ele pessoalmente nada fazia, mas a ele tudo era comunicado. Nesse primeiro dia me deu um bofetão só porque eu o encarei.

– Nunca mais me olhe assim! – avisou.

Fui levada para uma grande sala vazia, sem móveis, com as janelas cobertas por um plástico preto. Com a luz acesa na sala, vi um pequeno palco elevado, onde me colocaram de pé e me mandaram não recostar na parede. Chegaram três homens à paisana, um com muito cabelo, preto e liso, um outro ruivo e um descendente de japonês. Mandaram eu tirar a roupa. Uma peça a cada cinco minutos. Tirei o chinelo. O de cabelo preto me bateu:

– A roupa! Tire toda a roupa.

Fui tirando, constrangida, cada peça. Quando estava nua, eles mandaram entrar uns 10 soldados na sala. Eu tentava esconder minha nudez com as mãos. O homem de cabelo preto falou:

– Posso dizer a todos eles para irem pra cima de você, menina. E aqui não tem volta. Quando começamos, vamos até o fim.

Os soldados ficaram me olhando e os três homens à paisana gritavam, ameaçando me atacar, um clima de estupro iminente. O tempo nessas horas é relativo, não sei quanto tempo durou essa primeira ameaça. Viriam outras.

Eles saíram e o homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Era dezembro, um verão quente em Vitória, mas eu tremia toda. Não era de frio. Era um tremor que vem de dentro. Ainda agora, quando falo nisso, o tremor volta. Tinha medo da cobra que não via, mas que era minha única companhia naquela sala sinistra. A escuridão, o longo tempo de espera, ficar de pé sem recostar em nada, tudo aumentava o sofrimento. Meu corpo doía.

Não sei quanto tempo durou esta agonia. Foram horas. Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro. Lembro que quando aqueles três homens voltaram, davam gargalhadas, riam da situação. Eu pensava que era só sadismo. Não sabia que na tortura brasileira havia uma cobra, uma jiboia usada para aterrorizar e que além de tudo tinha o apelido de Míriam. Nem sei se era a mesma. Se era, talvez fosse esse o motivo de tanto riso. Míriam e Míriam, juntas na mesma sala. Essa era a graça, imagino.

Dr. Pablo voltou, depois, com os outros dois, e me encheu de perguntas. As de sempre: o que eu fazia, quem conhecia. Me davam tapas, chutes, puxavam pelo cabelo, bateram com minha cabeça na parede. Eu sangrava na nuca, o sangue molhou meu cabelo. Ninguém tratou de minha ferida , não me deram nenhum alimento naquele dia, exceto um copo de suco de laranja que, com a forte bofetada do capitão Guilherme, eu deixei cair no chão. Não recebi um único telefonema, não vi nenhum advogado, ninguém sabia o que tinha acontecido comigo, eu não sabia se as pessoas tinham ideia do meu desaparecimento. Só três dias após minha prisão é que meu pai recebeu, em Caratinga, um telefonema anônimo de uma mulher dizendo que eu tinha sido presa. Ele procurou muito e só conseguiu me localizar no fim daquele dezembro. Havia outros presos no quartel, mas só ao final de três semanas fui colocada na cela com a outras presas: Angela, Badora, Beth, Magdalena, estudantes, como eu.

Fiquei 48 horas sem comer. Eu entrei no quartel com 50 kg de peso, saí três meses depois pesando 39 kg. Eu cheguei lá com um mês de gravidez, e tinha enormes chances de perder meu bebê. Foi o que médico me disse, quando saí de lá, com quatro meses de gestação. Eu estava deprimida, mal alimentada, tensa, assustada, anêmica, com carência aguda de vitamina D por falta de sol. Nada que uma mulher deve ser para proteger seu bebê na barriga. Se meu filho sobrevivesse, teria sequelas, me disse o médico.

– A má notícia eu já sei, doutor, vou procurar logo um médico que me diga o que fazer para aumentar as chances do meu filho.

Mas isso foi ao sair. Lá dentro achei que não havia chance alguma para nós. Eu era levada de uma sala para outra, numa área administrativa do quartel, onde passava por outras sessões de perguntas, sempre as mesmas, tudo aos gritos, para manter o clima de terror, de intimidação. Na noite seguinte, atravessei a madrugada com uma sessão de interrogatório pesado, o Dr. Pablo e os outros dois berrando, me ameaçando de estupro, dizendo que iam me matar. Um dia achei que iria morrer. Entraram no meio da noite na cela do forte para onde eu fui levada após esses dois dias. Falaram que seria o último passeio e me levaram para um lugar escuro, no pátio do quartel, para simular um fuzilamento. Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver”.

Um dia, um outro militar, que não era nenhum daqueles três, botou um revólver na minha cabeça e falou: “Eu posso te matar”. E forçou aquele cano frio na minha testa. Me deu um sentimento enorme de solidão, de abandono. Eu me senti absolutamente só no mundo. Pela falta de notícias, imaginava que o Marcelo estava morto. Entendi que iria morrer também e que ninguém saberia da minha morte, pensei. Mas não quis demonstrar medo. Lembro que o homem do revólver tinha olhos azuis. Olhei nos seus olhos e respondi: “Sim, você pode pode me matar”. E repeti, falando ainda mais alto, com ar de desafio: “Sim, você pode!”

Um dos interrogatórios foi feito na sala do capitão Guilherme, o S-2 que mandava em todos ali. Era noite, ele não estava, e me interrogaram na sala dele. Lembro dela porque havia na parede um quadro com a imagem do Duque de Caxias. Estava ainda com o biquíni e a camisa, era a única roupa que eu tinha, que me protegia. Nessa noite, na sala, de novo fui desnudada e os homens passaram o tempo todo me alisando, me apalpando, me bolinando, brincando comigo. Um deles me obrigou a deitar com ele no sofá. Não chegaram a consumar nada, mas estavam no limite do estupro, divertindo-se com tudo aquilo.

Eu estava com um mês de gravidez, e disse isso a eles. Não adiantou. Ignoraram a revelação e minha condição de grávida não aliviou minha condição lá dentro. Minha cabeça doía, com a pancada na parede, e o sangue coagulado na nuca incomodava. Eu não podia me lavar, não tinha nem roupa para trocar. Quando pensava em descansar e dormir um pouco, à noite, o lugar onde estava de repente era invadido, aos gritos, com um bando de pastores alemães latindo na minha cara. Não mordiam, mas pareciam que iam me estraçalhar, se escapassem da coleira. E, para enfurecer ainda mais os cães, os soldados gritavam a palavra que enlouquecia a cachorrada: “Terrorista, terrorista!…”

As primeiras três semanas que passei lá foram terríveis. Só melhorou quando o Dr. Pablo e seus dois companheiros foram embora. Entendi então que eles não pertenciam ao quartel de Vila Velha. Tinham vindo do Rio, é o que chegaram a conversar entre eles, em papos casuais: “E aí, quando voltarmos ao Rio, o que a gente vai fazer lá…” Isso fazia sentido, porque o quartel de Vila Velha integra o Comando do I Exército, hoje Comando do Leste, que tem o QG no Rio de Janeiro.

Quando o trio voltou para o Rio, a situação ficou menos ruim. Eles já não tinham mais nada para perguntar. Me tiraram da cela da fortaleza e me levaram para a cela coletiva. Foi melhor. Na cela do forte não havia janelas, a porta era inteiriça e minhas companhias eram apenas as baratas. Fiz uma foto minha, agora em 2011, ao lado da porta.

Até que chegou o dia de assinar a confissão, para dar início ao IPM, o inquérito policial-militar que acontecia lá mesmo, dentro do quartel. Me levaram para a sala do capitão Guilherme, o S-2, e levei um susto. Lá estava o Marcelo, que eu pensava estar morto. Os militares saíram da sala e nos deixaram sozinhos. Quando eu fui falar alguma coisa, o Marcelo me fez um sinal para ficar calada. Ele levantou, foi até a parede e levantou o quadro do Duque de Caxias. Estava cheio de fios e microfones lá atrás. Era tudo grampo.

Depois disso, o Marcelo foi levado para o Regimento Sampaio, na Vila Militar, no Rio de Janeiro, e lá ficou nove meses numa solitária. Sem banho de sol, sem nada para ler, sem ninguém para conversar. Foi colocado lá para enlouquecer. Nove longos e solitários meses… Nós, todos os presos, e os que já estavam soltos nos encontramos mais ou menos em junho na 2ª Auditoria da Aeronáutica, para o que eles chamam de sumário de culpa, o único momento em que o réu fala. Eu com uma barriga de sete meses de gravidez. O processo, que envolvia 28 pessoas, a maioria garotos da nossa idade, nos acusava de tentativa de organizar o PCdoB no estado, de aliciamento de estudantes, de panfletagem e pichações. Ao fim, eu e a maioria fomos absolvidos. O Marcelo foi condenado a um ano de cadeia. Nunca pedi indenização, nem Marcelo. Gostaria de ouvir um pedido de desculpas, porque isso me daria confiança de que meus netos não viverão o que eu vivi. É preciso reconhecer o erro para não repeti-lo. As Forças Armadas nunca reconheceram o que fizeram.

Nunca mais vi o capitão Guilherme, o S-2 que comandou tudo aquilo. Uma vez ele apareceu no Superior Tribunal Militar como assessor de um ministro. Marcelo foi expulso do curso de Medicina, após a prisão, e virou jornalista. Fomos para Brasília em 1977. Por ironia do destino, Marcelo só conseguiu vaga de repórter para cobrir os tribunais. E lá no STM, um dia, ele reviu o capitão Guilherme. Depois disso, não soubemos mais dele. Nem sei se o S-2 ainda está vivo.

O que eu sei é que mantive a promessa que me fiz, naquela noite em que vi minha sombra projetada na parede, antes do fuzilamento simulado. Eu sabia que era muito nova para morrer. Sei que outros presos viveram coisas piores e nem acho minha história importante. Mas foi o meu inferno. Tive sorte comparado a tantos outros.

Sobrevivi e meu filho Vladimir nasceu em agosto forte e saudável, sem qualquer sequela. Ele me deu duas netas, Manuela (3 anos) e Isabel (1). Do meu filho caçula, Matheus, ganhei outros dois netos, Mariana (8) e Daniel (4). Eles são o meu maior patrimônio.

Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país. [Depoimento a Luiz Cláudio Cunha]

Dream Theater: venda de ingressos para Fortaleza começa na quarta

Apresentando sua turnê mundial “Along the Ride Tour” em solo brasileiro, a banda conhecida como expoente do metal progressivo, caracterizado por sua qualidade musical e habilidade instrumental, o DREAM THEATER aterrissa logo mais na capital cearense para realização de show na noite do segundo sábado de outubro, dia 11, no Siará Hall.


A venda de ingresso para este show da banda Dream Theater segue marcada para começar nesta quarta-­-feira (20), exatamente às 09 horas da manhã, quando, através do site www.blueticket.com.br, será liberado o primeiro lote de ingressos de pista e camarote, simultaneamente disponibilizado nos pontos de venda físico, que são loja do Siriguella e bilheteria Siará Hall, localizados, respectivamente, na Avenida Dom Luís e Avenida Washington Soares, abertos semanalmente das 09 às 19 horas.

O show do quinteto norte-americano em Fortaleza, aclamados constantemente pela crítica especializada, classificados e premiados por seu rebuscamento musical, permanece como a última apresentação no Brasil, após a passagem em outras seis capitais (Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de janeiro, Brasília e Recife). Sucessos como “Another Day”, “The Spirit Carries On” e “As I Am” devem mostrar exatamente ao vivo para os fãs e admiradores por que os instrumentistas da banda DREAM THEATER figuram entre os melhores baixistas, guitarristas e bateristas do mundo.

DREAM THEATER em Fortaleza

Data do show: 11 de outubro

Local: Siará Hall -­- Av. Washington Soares, 3199 -­- Edson Queiroz.

Abertura dos portões: 19 horas

Vendas: www.blueticket.com.br, Siará Hall e Siriguella.

Valores: Pista – R$ 80,00 (meia) e R$ 160,00 (inteira)

Frontstage – R$ 180,00 (meia) e R$ 360,00 (inteira)

Valores referentes ao primeiro lote, podendo ser alterado sem aviso prévio.

Data do início da venda: 20 de agosto

Informações: (85) 3264.8091

Classificação: 16 anos

Realização: Arte Produções, Social Music e Luan Promoções.

19/08/2014

PSB escolhe Beto Albuquerque como vice de Marina Silva


Depois de um dia de disputas internas, líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), foi escolhido, nesta terça-feira (19/8), candidato a vice-presidente da República na chapa do partido. O nome dele será oficializado, ao lado da ex-senadora Marina Silva, candidata à Presidência, amanhã, em Brasília. A mudança ocorre depois da morte de Eduardo Campos na semana passada em acidente aéreo em Santos (SP).

Beto Albuquerque despontou como favorito na disputa pela vice na semana passada, quando o partido decidiu dois critérios para a escolha do nome: ser um quadro tradicional do PSB e ser ligado a Eduardo Campos. O deputado federal cumpre os dois requisitos. Mas, para se consolidar na disputa, ele precisou superar a resistência da ala pernambucana do partido, que reivindicava um nome do partido para a composição.

Este ano, Albuquerque disputava uma cadeira no Senado pelo Rio Grande do Sul, a pedido de Eduardo Campos, mas aparecia apenas em 3º lugar nas pesquisas. O PSB já consultou a ex-senadora Marina Silva, que deu aval à escolha. Ela tem bom relacionamento com o deputado.

Ex-secretário de Infraestrutura e Logística do governo Tarso Genro (PT) no Rio Grande do Sul, Albuquerque se elegeu deputado federal pela primeira vez em 1998. No primeiro mandato, licenciou-se para ser secretário de Transporte do governo Olívio Dutra, no mesmo estado. É advogado e tem 51 anos.

A viúva de Eduardo, Renata Campos, também era cotada para assumir a candidatura a vice. Mas declinou do convite, alegando que precisa cuidar dos cinco filhos, o mais novo tem sete meses e ainda é amamentado.

Olha eu aqui outra vez

Depois de um longo e tenebroso "inverno", volto a postar. Sei que você, meu único leitor, já estava com saudades, mas só agora me liguei que,se você vem aqui, mesmo que de vez em quando, é porque gosta do que escrevo e, nesse caso, posso colocar o que realmente penso, principalmente em matéria de politica, afinal, esse é uma no de eleições..

Tenho muitos amigos, com as mais diversas linhas de raciocínio político e, ultimamente, tenho achado que as redes sociais são muito enxeridas*, sempre mostrando minha opinião sobre tudo e sobre todos. Cheguei até a "bater boca" com alguns, o que não é do meu feitio.

Por isso, resolvi não explicitar minhas opiniões nas redes sociais. Quando quiser falar, posto aqui e lê quem quiser. Pra ler, tem que vir aqui ;)

Vou tentar não deixar aqui às moscas, outra vez.

* Do nodertinês, metidas, amostradas, entronas.