Por Pablo Vilaça
Este é um ano fascinante para quem ama política como eu. Mas também um ano para destroçar os nervos.
É também um ano no qual me vi constantemente jogado de um lado para o outro. Há algumas semanas, manifestei imenso descontentamento com Dilma em função da abertura à bancada evangélica e, inclusive, anunciei que não conseguiria votar nela naquelas circunstâncias.
Embora seja comum que me chamem de "petista", não posso me considerar um. Há vários quadros do PT que me desagradam e que jamais teriam meu apoio. Não acho, por exemplo, que Lindbergh Farias seja um candidato digno de apoio ao governo do Rio (o que apenas deixa o povo do estado numa situação ainda mais desesperadora, já que não contam com um único candidato viável que preste). Lamentei imensamente ver Fernando Pimentel abraçando Newton Cardoso em MG e, por esta razão, não estou certo de que lhe concederei meu voto (mesmo abominando Pimenta da Veiga). Minha posição é sempre de esquerda - às vezes mais, às vezes menos -, mas o PT não é necessariamente minha primeira escolha nas eleições (e já cansei de votar em outros partidos para a prefeitura de BH e para os cargos de vereador e deputados estadual e federal).
Por outro lado, defendi a candidatura de Lula em 1989 (mesmo quando não tinha título de eleitor) e votei nele em todas as campanhas subsequentes. Também votei em Dilma em 2010. E, até anunciar que não poderia mais votar nela, há algumas semanas, estava certo de que votaria por sua reeleição.
Pois não sou político. Não consigo aceitar facilmente a ideia do pragmatismo. Opto sempre pela ideologia pura, mesmo que pouco prática. E, assim, mesmo que me dissessem que Dilma flertar com a bancada religiosa era um gesto eleitoral, eu não achava fácil aceitar isso.
Aliás, ainda não acho.
Porém, algo mudou. Este "algo" se chama Marina Silva.
Quando falei que não me sentia à vontade para votar em Dilma, semanas atrás, vários leitores perguntaram se eu votaria então em Aécio ou Eduardo Campos. Respondi que jamais votaria em Aécio ou numa chapa que tivesse Marina Silva.
E agora Marina é presidenciável. Não há mais o escudo da razão representado por Campos e por ótimos quadros do PSB. E a ameaça crescente da teocracia me assusta. Marina Silva diz que vai defender o Estado laico. Sei. Assim como Feliciano defendeu os Direitos Humanos - e vale lembrar que Marina DEFENDEU este último quando foi atacado por suas posições na CDH.
Lembrando que Marina é a candidata que disse que não era criacionista, mas que Deus é responsável por tudo, até pelas ideias de Darwin. E também lembrando que Marina disse não ter entrado no avião por "providência divina". Providência esta que não ligou pra Campos, pelo visto - e se há algo que me apavora é alguém com complexo de Messias, de "predestinação".
Assim, com Marina com chances de vitória (e a única alternativa viável sendo Aécio), volto a defender a candidatura de Dilma. Ciente, porém, de que, Dilma reeleita, vou bater insistentemente na tecla das portas fechadas para o lobby evangélico, que não deve ter espaço por representar um atraso social ao misturar dogmas irracionais com pautas de comportamento e jurisprudência inaceitáveis. (Alem disso, essa mídia reacionária é nojenta demais. Meu voto é também de oposição a ela.)
Estamos em 2014. As mulheres DEVEM ter palavra final sobre o próprio corpo, os homossexuais não podem mais viver à margem da sociedade, os avanços científicos não podem ser impedidos por credos infantis.
Mas volto a isso após as eleições.
E por que torno meu voto público (prática que repito em todas as eleições)? Por respeito aos meus leitores. Abomino atitudes de certas celebridades/jornalistas/vlogers que insistem em se apresentar como "imparciais" enquanto criticam insistentemente apenas um candidato e elogiam outro. Isto é tratar aqueles que os seguem como imbecis, como massa de manobra.
Prefiro desapontar aqueles que acreditam que meu voto é inaceitável (pois estes já tendem a se afastar de meus escritos mesmo) do que desrespeitar aqueles que, mesmo discordando, respeitam minha posição (e embora admire certas bandeiras de Luciana Genro, por exemplo, percebo que tenho que aprender certo pragmatismo e compreender que, neste momento, qualquer voto em outro candidato representa, na prática, um voto para Aécio ou Marina).
Assim sendo, se você é leitor(a) do que escrevo, agradeço pela honra e, como sinal de respeito, deixo claro que meu voto em 2014 é de Dilma Rousseff. Se acha difícil lidar com isso... nos vemos após as eleições.
Até lá, um grande abraço e bons filmes. E aos que ficam... obrigado mais uma vez por sua presença em minha vida profissional.
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