06/10/2014

Será que eu tô errado?

Definições à parte, sempre fui um "cidadão de esquerda". Da convivência com meu pai, aprendi (e tento ensinar ao meu filho) a ter uma visão de igualdade social. Devorando livros por ele indicados (os mesmos indicados ao meu filho), sempre tive uma preocupação com os cidadãos considerados em desvantagem em relação aos outros e aprendi (e tento ensinar), principalmente, que há desigualdades injustificadas que devem ser reduzidas ou abolidas.

É evidente que a grande maioria das pessoas deseja viver bem e, de uma forma geral, admiro quem faz as coisas corretamente e que resulte em alguma melhoria para a sociedade, independente da corrente política a que possa pertencer, inclusive os que não são "de esquerda"

Quando da fundação do Partido dos Trabalhadores, quando tinha tenros 15 anos de idade, identifiquei-me imediatamente. "O PT que surgiu da organização sindical espontânea de operários paulistas no final da década de 1970, dentro do vácuo político criado pela repressão do regime militar aos partidos comunistas tradicionais e aos grupos armados de Esquerda então existentes." (obrigado Wikipedia).

Após 22 anos de insistência, três derrotas e oito anos de oposição quase sistemática a FHC, Luiz Inácio Lula da Silva chega à Presidência da República, vencendo José Serra, candidato oficial, duas vezes ministro de FHC e uma das principais lideranças do PSDB.

O PT finalmente chega ao poder com inflexão ao centro e sem assustar a direita do país e assume a presidência se dizendo disposto a firmar um pacto social com todos os setores da sociedade para resolver a crise pela qual o país atravessava

Acredito que por isso, o PT deu uma guinada nas suas convicções e o resultado, todo mundo já sabe: mensalão, escândalo dos bingos, Celso Daniel, escândalo dos cartões corporativos...

Sabemos que isso não é exclusividade do PT. Não mesmo! Basta ver o gráfico abaixo que mostra a lista de candidatos barrados pela Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº. 135 de 2010):


Reconheço que está cada vez mais difícil defender o PT. Mas, definitivamente não acho que Dilma e Aécio são "farinha do mesmo saco". Aécio é neoliberal, é de direita! E cidadão de esquerda foge de neoliberal como diabo foge da cruz.

Pra mim, a direita poderia ter força para eleger Aécio, desde que se assuma como direita. Mas ela é tão incompetente no Brasil que promete privatizar Petrobras, propõe um estado mínimo, é contra casamento gay... Dividiu-se. Faça-me o favor!

Aqui cabe uma (grande) pausa.

No Brasil, se você diz que vota em partidos ou ideias defendidas por eles, você corre o risco de apanhar. A maioria defende que se tem que votar em pessoas, não em partidos. Isso é um grande equívoco! O correto seria votar numa ideia que um grupo ou partido defende. Não votar em partidos e sim em pessoas só no Brasil mesmo. 

Na Colômbia vota-se em dois partidos dominantes por décadas, Liberal e Conservador. No Uruguai, os partidos maiores vêm desde a época da Guerra do Paraguai. No Chile vota-se na ideia conservadora ou na mais à esquerda. 

Antes aqui também era assim. Votava-se na UDN, PSD ou PTB. Por que a mudança? Em 1966, depois que o regime militar foi derrotado em eleições para governador em estados importantes, resolveram acabar com os antigos partidos e criaram a Arena e o MDB. 

Como é que um país pode funcionar com tantos partidos? Na confusão criada, a maioria dos eleitores aceita votar em pessoas, não nos partidos e no que defendem. Acho um tremendo mal para o país. 

Voltando a esquerda/direita.

Corremos o sério risco de colocar a direita no poder. Votei e votarei em Dilma novamente no segundo turno porque, infelizmente, ela é a única que pode evitar que isso aconteça.


Quem sabe, depois da campanha, Dilma seja determinada para avançar e aprofundar o combate à desigualdade, para garantir a liberdade, os direitos humanos, o estado laico...

Mas esse bla bla bla todo é pra mostrar o meu dilema. 

No meu círculo social (família e amigos inclusive), conto nos dedos aqueles que ainda apoiam/votam no PT. E não tiro a razão deles não. Muitos foram severamente prejudicados pela política social/econômica do PT.

Mas e aí? A gente defende os interesses e luta pela igualdade social, melhor distribuição de renda, mais saúde e educação pros mais necessitados ou os nossos?

Sinceramente? Não sei.

Só sei que fico triste ao ver amigos e familiares que não compartilham da minha visão política e fico triste por não compartilhar da visão política deles. 

C'est la vie.

Será que eu tô errado?

3 comentários:

  1. Grande Oto!

    Belo texto, novamente! Um dia ainda terei o prazer de ter um livro seu nas minhas mãos.

    O Brasil, de fato, é um país sui generis - inigualável. Tivemos uma história diferente dos nossos vizinhos, e isso influencia diretamente na nossa maneira de pensar e agir - provavelmente por isso não votamos em partidos nem em ideologias, mas em pessoas. Isso é bom ou ruim? Também não sei...

    Eu penso que a diversidade de pensamento é sempre benéfica e a democracia o melhor regime, com sua melhor característica sendo a alternância de poder. O PSDB governou o país por 8 anos, começou a falhar, o PT entrou, está há 12 anos, está falhando - está na hora de trocar de novo - simples assim!

    O que não pode acontecer é brigas e embates por causa disto. Eu sou de direita, mas tenho amigos queridos que são de esquerda e nem por isso brigamos - isto é democracia!

    Grande abraço!

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    1. É por isso que te admiro tanto. Forte abraço!

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  2. Vc ainda tá nesse pensamento binário de esquerda e direita?

    Que adianta se dizer de esquerda e fazer parte de um governo apoiado pela direita e utilizar-se práticas desse mesmo grupo? Isso é ser de esquerda?

    Esses rótulos não resistem a 1g de análise crítica.

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