05/10/2018

Por que não votar em Bolsonaro?

Aos familiares e amigos que estão pensando em dar um voto ao Bolsonaro no domingo:

Admito que demorei bastante pra escrever esse texto. Pra colocar em palavras toda a minha tristeza ao ver o que andam postando e compartilhando por ai. A quantidade de ódio que enaltecem e redistribuem sem perceber.

É difícil expor o quanto me decepciona que vocês não consigam entender o quão simbólico e poderoso é o cargo de Presidente da República. E o quão devastador pode ser entregá-lo nas mãos de alguém que parece desprezar por completo os significados de tolerância e harmonia.

Se as imagens de pessoas cantando "O Bolsonaro vai matar viado" nos estádios de futebol e no metrô a caminho de uma passeata dele ainda não são capazes de assustarem vocês - em estrita consonância com suas declarações de que "preferia um filho morto a um filho gay" e que "viado é viado por falta de porrada" -, então só me resta presumir que pouco se importam pela minha integridade, e que a minha liberdade e a dos meus amigos mais próximos - talvez a nossa própria vida - é um preço que vale a pena pagar pela tão sonhada derrota do PT na corrida à presidência.

Não tenho medo de afirmar a vocês: não é nesse país de intolerância e desumanidade que eu desejo viver.

Eu compreendo a desilusão de vocês após 14 anos de governo de um mesmo partido que infelizmente insiste em negar a aprender com os erros, seguido por 2 anos de um dos governos mais detestados da história do país, mas - por favor - há limites morais para todo pragmatismo.

Esse ano é atípico por trazer um número enorme de candidatos de todas as tendências e orientações políticas. Se o objetivo é tirar a presidência do PT, lhes asseguro que ao menos 3 deles teriam força suficiente para isso, fazendo as reformas necessárias para o avanço do país, sem pra isso desprezar o respeito entre as pessoas e a continuidade da democracia.

Mas vocês preferiram dar as costas a essas candidaturas viáveis e se bandear justamente com aquele que, sem experiência alguma no Executivo, prefere semear discórdia no ar, insinuar soluções fáceis a problemas complexos e fazer pose de arma com a mão, furtando-se insistentemente a explicar de forma transparente os pontos de seu projeto de governo, fugindo deliberadamente ao debate com os demais e bradando de antemão que só aceitará o resultado das eleições se e somente se ele mesmo vencer.

Sinceramente, peço que ouçam suas próprias consciências. Atentem ao ódio que esse candidato insiste em destilar. Considerem com mais profundeza as suas reais intenções e as eventuais consequências que um governo seu poderá ter na nossa democracia tão jovem e fragil. Repensem em quem vocês pretendem entregar seus votos. Se não conseguem fazê-lo por vocês próprios, pelo menos o façam por mim. Pela minha segurança e liberdade.

Porque eu não consigo conceber que 30% da população do meu país, internacionalmente conhecida por ser receptiva e simpática, se convença e encante com o pensamento destrutivo desse homem.

Há não mais que 30 anos elegemos um presidente que se dizia o "caçador de marajás" e se escorou na aversão do eleitorado a um conhecido político de esquerda pra se eleger. Vocês bem sabem o que se sucedeu, a crise econômica e política que se seguiu, os anos que se levou para arrumar a bagunça.

Vocês parecem esquecer que loucos autoritários como Chávez, Hitler e Mussolini chegaram ao poder pelo voto. Momentos de crise e desilusão são sempre propícios à ascensão de salvadores da pátria quase messiânicos. Não ignorem a história; ela tende a se repetir ciclicamente.

Minha mãe uma vez me perguntou como é que pode Hitler ter conseguido chegar ao poder de forma democrática e colocar a população da Alemanha num estado de negação e conivência com todas as atrocidades que foram cometidas pelo Estado. Lhes digo: é exatamente assim.

Krystoffer Bakof

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