16/03/2016

Sobre a delação premiada de Delcídio Amaral

Comecei a ler a delação premiada de Delcídio Amaral e não há como negar que as denúncias são gravíssimas e, se comprovadas, devem acarretar em punições exemplares a todos os envolvidos.

Ainda veio o áudio de Mercadante durante o dia.

Vamos refletir:

1- É impossível negar que uma grande parte da cúpula do PT esqueceu aquele compromisso firmado na sua origem, o de lutar pelo bem estar social e pela boa utilização da coisa pública. Não é republicano ingerir em uma investigação, isso é criminoso. Mercadante, não bastasse a incompetência na articulação política, além de ser demitido e processado penalmente, pode ser até preso que não considerarei nenhum absurdo.

2- Sim, continuo defendendo o Estado Democrático de Direito e a necessidade do contraditório judicial e de uma investigação exemplar, com todas as garantias legais, prezando pela própria natureza da delação premiada. Bom lembrar que ainda vem aí Pedro Corrêa com a promessa de entrega da bagatela de apenas 118 nomes. Se vai ter prova documental, eu não sei. Mas se tiver, bote no mundo e coloque cada um no seu devido lugar. Sem seletividade.

3- Claro que não podemos cair no conto do vigário de que a corrupção tem assinatura de um partido. Isso é balela, oportunismo barato. Precisamos combinar também que não dá pra aceitar a viabilidade das declarações de Delcídio para um lado e para o outro não (isso vale pra todo mundo, né?). Delcídio afirmou que se as "empreiteiras" falassem derrubariam os principais partidos da República. Disse que algumas tinham preferência pelo PT e outras pelo PSDB, mas que, na dúvida, doavam pra todo mundo. Ou seja, o processo político não é consequência, é CAUSA. Podemos sair maiores e melhores disso tudo, se houver o mínimo de pensamento altruísta e de fidelidade a um verdadeiro projeto de país, sem nunca desprezar o enfrentamento ideológico, claro. As pessoas, insisto, não estão acima de um ideal. Isso não muda nada do que foi feito pelo Partido dos Trabalhadores. Os avanços são históricos, no entanto, não podem ser utilizados como justificativa da dilapidação e do enriquecimento ilícito de militantes históricos que jogaram as suas trajetórias na lama, sem o mínimo de pudor e compromisso com o que deveria ser mais importante. Não importa se a ladroagem já existia com os tucanos ou com os rinocerontes, isso é ridículo. Esse tipo de falácia só torna a conduta ainda mais picareta e cínica.

4- A indicação de Lula para um Ministério nesse momento é um erro político e, de fato, padece de desvio de finalidade. Não que seja algo juridicamente fechado, o STF pode até entender o contrário. Em outros tempos, eu assinaria embaixo a nomeação, dada a sua capacidade notória de articulação política e do inegável êxito na política econômica do seu Governo. Mas não dá para admitir que isso venha a ocorrer agora. Vejo o ato como ilegal e não republicano.

5- Ou o PT e a esquerda como um todo fazem um enfrentamento decente de tudo isso, com postura de independência e com honestidade intelectual, ou podem esperar que o bloco conservador passará como um trator para ocupar um espaço deixado pela implosão da República e do próprio sistema político brasileiro. É hora de acordar mais e compartilhar menos corrente de Facebook.

Tempo difícil, mas que pode se tornar ainda mais difícil, se não houver espírito elevado e renúncia ao velho ego. A política não pode ser isso.

Guga Cardoso

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