28/12/2015

2015 está acabando e ficam alguma lições.

Por Tico Santa Cruz

1- Não foi Dilma quem venceu as eleições, foi Aécio quem perdeu.

2 - Em tempos difíceis é preciso se posicionar e deixar bem claro quais são seus valores.

3 - Brasileiro aceita usar um corrupto para combater a corrupção.

4 - Não adianta mudar as peças do Tabuleiro se não mudarmos as regras.

5 - Estar do lado da maioria nem sempre é estar do lado certo.
A maioria já foi a favor do Nazismo, Fascismo, da escravidão, da separação entre brancos e negros e contra a participação das mulheres na política através do Voto.

6 - Se muitos Políticos corruptos são a favor de um Impeachment  é porque talvez esse impeachment possa livrá-los das futuras investigações e punições.

7 - Nunca se prendeu tanta gente poderosa na história desse país.

8 - Ninguém em sã consciência está satisfeito com o Governo, mas qualquer pessoa que tenha um senso crítico MÍNIMO  sabe que existe uma manipulação para fomentar uma crise maior do que a que embarcamos.

9 - Para especuladores quanto pior melhor.

10 - A República é divida por poderes: Executivo, legislativo e Judiciário - aprenda a quem cobrar o que.

O Amor é a única revolução verdadeira.

24/12/2015

Star Wars: o despertar da nostalgia

Por Cora Ronai

Em 1978, quando "Guerra nas estrelas" chegou finalmente ao Brasil, nenhum de nós, espectadores, imaginava que estava assistindo ao nascimento da maior mitologia contemporânea. Na verdade, naquela época pré-internet, levamos muito tempo sem nem ao menos saber ao certo como traduzir "Star wars".  Guerras das estrelas? Guerra de estrelas? Guerras da estrela? Tudo o que sabíamos, além dos contornos da história e do elenco, é que aquela ficção científica era o maior sucesso de bilheteria de todos os tempos. Como nada faz tanto sucesso quanto o sucesso, "Guerra nas estrelas" -- como o filme foi, afinal,  oficialmente chamado, sem número e sem subtítulo -- chegou com imenso alarde, e com filas ainda maiores. Não esqueço da ansiedade com que corri para o cinema depois do trabalho, num dos primeiros dias de exibição, preocupada em não encontrar lugar; nem esqueço do assento horrível em que fiquei, na lateral de uma lateral, mas ainda assim absurdamente feliz de ter conseguido entrar.

Na madrugada da última quinta-feira, passados 37 anos, me lembrei muito daquele primeiro contato com a galáxia de George Lucas. Assim que a venda de ingressos para a pré estreia de "O despertar da força" foi liberada, ainda em outubro, corri para o computador, mas não rápido o suficiente para garantir lugar num cinema perto de casa. Depois de pesquisar uma quantidade desalentadora de salas lotadas, descobri uma única poltroninha  solitária na última fila de um cinema em Botafogo. Para mim, estava ótimo -- tão bom quanto a lateral da lateral do Cine Brasília. Eu não havia mesmo conseguido convencer ninguém a me fazer companhia no cinema aos cinco minutos de um dia de semana.

Muitas coisas mudaram entre aquela primeira estreia e essa última. A série -- ou a franquia, vá lá -- não se chama mais "Guerra nas estrelas", e sim "Star Wars", seja aqui, seja na França, na Dinamarca ou onde mais seja exibida. Conhecemos o seu universo em detalhes. Sabemos tudo, ou quase tudo, a respeito das principais personagens. Estamos familiarizados com a paisagem dos planetas e com a trilha sonora, identificamos o modelo das naves e os tipos de armas. Temos camisetas e bonés Star Wars, canecas Star Wars, posters Star Wars, bonequinhos Star Wars. Assistimos a vários trailers em nossos smartphones e computadores sem depender dos cinemas. E, claro, já saímos de casa com os lugares marcados (o que talvez explique porque, atualmente, a fila da pipoca é sempre maior do que a da bilheteria; mas isso são outros quinhentos).

Como eu esperava, a pré estreia de "Star Wars -- o despertar da força" foi um acontecimento. Havia alguns jedis, um ou dois Darth Vaders, um Luke, uma Leia, camisetas temáticas aos montes, sabres de luz. E havia, acima de tudo, a emoção de quem ama num momento de reencontro ansiosamente aguardado.

Foi lindo, de verdade.

Quando voltei a ver o filme, na segunda passada, a plateia já era outra. Ninguém gritou quando Han Solo e Chewbacca apareceram, nem houve aplausos no final. Fiquei com pena. Eu teria gritado e aplaudido novamente.

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Não sei se "O despertar da força" é mesmo, como me parece agora, o melhor "Star wars" até aqui: preciso rever os anteriores para poder afirmar isso com absoluta certeza. É possível que parte do meu entusiasmo venha da alegria de ter encontrado exatamente a história que eu queria, ao mesmo tempo diferente e igual, familiar e desconhecida. Se o primeiro filme -- aquele, de 1977 -- tinha o trunfo da originalidade, este tem o da nostalgia: com ele voltamos para casa, para o "Guerra nas estrelas" que amávamos e que, de alguma maneira, se perdeu com as confusas prequels de 1999, 2002 e 2005.

Já nas primeiras cenas fica claro que esta é a continuação pela qual estávamos esperando desde "O retorno de Jedi", de 1983. Os personagens que conhecemos então envelheceram junto conosco: nós sabemos que  30 anos se passaram não porque as folhas de um calendário foram levadas pelo vento, como nos antigos filmes de Hollywood, ou porque algum gênio do make transformou a fisionomia dos atores, mas porque, de fato, 30 anos se passaram. Eles podem ser contados um por um nos rostos de Han Solo, de Luke e da princesa Leia; eles podem ser contados nos nossos rostos. Vai ser muito difícil para qualquer filme, nesta ou em qualquer outra galáxia, superar essa extraordinária passagem de tempo.

É claro que essa viagem paralela e emocionante à juventude da minha geração não passa de simples curiosidade para quem está chegando agora; ainda assim, "O despertar da força" tem qualidades suficientes para conquistar legiões de novos fãs para a saga. O filme tem roteiro e direção fantásticos, atores carismáticos, ação, emoção e humor, cenas lindas, paisagens deslumbrantes e uma quantidade de personagens divertidas, entre elas um androide capaz de disputar com R2D2 o título de robô mais engraçadinho de todos os tempos. Last but not least, tem também um final arrebatador, que deixa tudo pronto para o próximo episódio.

Mal posso esperar!

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Feliz Natal, pessoas: que a força esteja com vocês.

(O Globo, Segundo Caderno, 24.12.2015)

23/12/2015

Um país de trogloditas

Por José Geraldo Couto

O episódio dos playboys babacas que hostilizaram Chico Buarque no Leblon me fez lembrar algo que aconteceu aqui no Facebook um ano atrás.

Um amigo do meu filho postou esta canção do Chico, "Construção". Nos comentários, alguém escreveu: "fora petralha". O rapaz que postou a música respondeu com um ponto de interrogação. O outro "explicou": "chico Buarque = pt", e com isso encerrou a discussão.

Quer dizer, uma canção cuja letra Carlos Drummond de Andrade disse que gostaria de ter escrito, e com aquele arranjo maravilhoso do Rogério Duprat, era refutada assim, sem mais, com uma frase de estupidez e ódio.

Dane-se o PT, mas esse embrutecimento vai muito além das discussões partidárias. Estamos formando um país de trogloditas.

18/12/2015

O valioso tempo dos maduros - Mário de Andrade

Contei meus anos e descobri que terei
menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que
recebeu uma bacia de cerejas.As primeiras,
ele chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam
egos inflamados. Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres
de pessoas, que apesar da idade cronológica,
são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso cargo de secretário
geral do coral. ?As pessoas não debatem conteúdos,
apenas os rótulos?.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa?

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado
de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade, caminhar perto de
coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!.


Antonio Abujamra declama "O valioso tempo dos maduros"



17/12/2015

Luís Roberto Barroso, a liderança suave no STF

Por Luis Nassif

QUI, 17/12/2015 - 21:22
ATUALIZADO EM 17/12/2015 - 21:27



Luís Roberto Barroso assumiu o cargo de Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) como unanimidade nacional. Na condição de advogado, antes de se tornar Ministro coube a ele defender algumas das grandes teses modernizantes do STF.

Chegou em pleno burburinho da AP 470, sofrendo ataques preventivos da frente de difamação criada em cima do clima de linchamento.  E sofrendo também críticas de colegas e de jornalistas (como este aqui) incomodados com  seu ar algo blasé, de quem não se deixa comover com discussões e retóricas.

Foi um período tenebroso, com o STF sendo presidido por Ministros sem compostura e as grosserias campeando nas sessões. Restava a fortaleza suave de Ricardo Lewandowski e a ironia firme e sem retórica de Marco Aurélio de Mello colocando limites ao festival de grosserias emanados de Joaquins e Gilmares.

Aos poucos, de modo suave, Barroso foi construindo sua liderança em uma casa quase coagida pela truculência verbal de Gilmar Mendes, amparado por uma mídia vociferante e uma turba disposta a agressões públicas contra recalcitrantes, como aconteceu com Ricardo Lewandowski no julgamento do "mensalão".

Na sessão histórica deste 17 de dezembro de 2015, sem rompantes, com absoluta racionalidade, Barroso desconstruiu um a um os argumentos do relator Luiz Edson Fachin, mas com tal fidalguia que Fachin saiu consagrado  da sessão - embora derrotado em todos os pontos relevantes.

Restaram a Dias Toffoli e Gilmar Mendes os berros, a retórica vazia, comportando-se como líderes secundaristas defendendo a democracia direta, por cima dos partidos e das "oligarquias partidárias" - conforme definição do mais oligárquico personagem jurídico do país, Gilmar.

Foram berros para a TV, não para um fórum qualificado. Pelo contrário, terminado o festival de berros salivados de Gilmar e Toffoli, a palavra voltou a Marco Aurélio de Mello para, com sua linguagem e raciocínios claros, trazer de volta os princípios elementares de democracia representativa, assegurando a indicação dos membros da comissão do impeachment aos blocos partidários.

Gilmar saiu bufando da sessão, avisando que iria viajar e merecendo, de bate pronto, um "boa viagem" de Levandowski, um presidente impecável, até nos elogios paternais às bizarrices adolescentes de Toffoli.

No final da sessão, ficava claro que há juízes no Supremo. E, mais que isso, uma liderança suave e firme, de um iluminista de modos fidalgos mas com sólido como a qualidade dos argumentos com que ilumina a Justiça.

Tenho saudades do PT

Escrito por Rubem Alves

Estou triste. Perdi as esperanças. Escrever, que sempre me foi um motivo de alegria, agora é coisa que faço me arrastando. Penso que o melhor seria parar de escrever. Vinicius se referia à sua "inútil poesia". Poesia é inútil. Os poetas são fracos. As fórmulas dos demagogos são mais palatáveis. Escrevo inutilmente. Minhas tristezas são duas.

Hoje escreverei inutilmente sobre a primeira: minha desilusão com o PT. O nascimento do PT anunciou a possibilidade da esperança: fazer política de um outro jeito, combinando ética, inteligência e a opção preferencial pelos pobres. O PT fazia lembrar os profetas do Antigo Testamento que denunciavam os ricos que exploravam os trabalhadores sem jamais fazer alianças espúrias. Aí o rosto do profeta começou a apresentar rachaduras...

Era a ocasião do plebiscito para decidir entre presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia. O Lula e o Genoino eram a favor do parlamentarismo. As bases do PT foram consultadas. E elas votaram pelo presidencialismo. O Genoino engoliu o sapo e se calou. Fez silêncio obsequioso, como diz o cardeal Ratzinger. Mas o Lula não demonstrou desgosto. Engoliu o sapo que as bases lhes impunham como se fosse uma rã frita com arroz e se tornou loquaz em defesa do presidencialismo... Fiquei estupefato, curioso sobre os processos mentais que operavam na sua cabeça para que se esquecesse com tanta facilidade das convicções de véspera. Como psicanalista, eu ignorava qualquer caso de amnésia parecido. Intrigou-me clinicamente a forma como funcionava a cabeça do profeta, tendo-se em conta que não há caso na literatura religiosa de profeta que amoldasse suas convicções em obediência às bases...

E então me perguntei: "O que é mais terrível? Ser silenciado pela violência de um ditador inimigo ou ser silenciado por ordem dos companheiros?" Ah! Também os companheiros podem ser repressores...

A unidade do partido exige que todos brinquem de "boca-de-forno": todos têm de pensar igual. O diferente é expelido. Como na igreja. Compreendi que eu nunca poderia me filiar ao PT porque, se há uma coisa que prezo, é a liberdade para dizer o que penso, ainda que eu seja o único a dizê-la. O tempo passou. Veio o escândalo do "caixa dois" do PT.

O profeta, que afirmou ignorar tudo, deveria ter falado palavras de fogo contra os corruptos. Ao contrário, num fórum internacional, na França, não só admitiu o fato como também o justificou: isso é normal no Brasil... Agora, o inimaginável: uma fotografia do presidente Lula cumprimentando sorridente o possível "companheiro" Orestes Quércia. Anunciava-se ali o início de um possível noivado...

Para aumentar o meu espanto hoje, quando escrevo, vi uma foto do presidente Lula alegre e sorridente apertando a mão do "companheiro" Newton Cardoso, famoso ex-governador de Minas Gerais. O profeta brinda com os falsos profetas... De fato, só pode ser um caso de amnésia... Os meus queridos amigos petistas que me perdoem. Meu estômago tem limites.

Há um ditado que diz: "Pássaros com penas iguais voam juntos..." Concluo logicamente: "Se estão voando juntos é porque suas penas são iguais".

Vocês não têm saudades do PT? Eu tenho.

Comentário de Wagner Francesco:

Este texto foi escrito pelo meu querido professor Rubem Alves em Setembro de 2006, mas continua atual porque o PT daquela época é o mesmo PT da época de hoje: um partido como todo partido que troca projeto de Brasil por projeto de Poder.

Eu sou contra o Impeachment por ainda não estar convencido de que há crimes e convicto de que não pode haver impeachment se o fato aconteceu em mandato anterior - mas estes são pontos que podemos discutir noutros momentos.

O fato é que politicamente - no sentido mais nojento do termo política/politicagem - não vejo muita diferença para o Brasil se o PT sair e o PMDB entrar. Eu sei que alguns do PT irão dizer que "se tá ruim com o PT, imagina com o PMDB", mas, contra este argumento cínico, nenhum contra-argumento é melhor que este: Se o PMDB é ruim então por que o PT se juntou? A lógica de escolher um vice é escolher alguém que pensa parecido, que a gente confia para nos substituir... Ou eu estou sendo ingênuo? (ironic!)


Como disse o saudoso Rubem Alves: Passarinho que voa junto é porque tem as penas iguais - e pra mim chega de tanto passarinho junto voando no Congresso Brasileiro.

E antes que eu me esqueça, já que agora fico de férias: Desejo a todos um feliz Natal e um próspero ano novo. Que 2016 seja um ano de paz e coragem.

"Sejamos realistas: façamos o impossível" (Comandante E. Che Guevara)


Theologian and Paralegal

Nascido no interior da Bahia, Conceição do Coité, formado em teologia e estudante de Direito. Pesquiso nas áreas do Direito Penal e Processo Penal. facebook.com/wagnerfrancesco

03/12/2015

Medo levou Eduardo Cunha a iniciar impeachment contra Dilma Rousseff



Por Joaquim Falcão
Diretor da FGV Direito Rio

Medo diante de três acontecimentos. Primeiro, a capacidade de a Lava Jato, com a Procuradoria Geral da República, continuar revelando fatos indignantes. Segundo, a inédita decisão do Supremo de prender um congressista. Terceiro, a decisão do PT de não o apoiar na Comissão de Ética.

Não se trata mais de saber se tem conta na Suíça ou não. Se se mentiu ou não aos colegas. Tudo fica pequeno quando a alma é pequena. A eventual conduta ilegal de Eduardo Cunha agora é outra. É maior. Fácil perceber.

As prerrogativas de decidir pauta, horário das sessões, prioridades de votação, encaminhamento ou não dos pedidos de impeachment, por exemplo, não são prerrogativas do “cidadão” Eduardo Cunha. Nem mesmo do “deputado“ Eduardo Cunha. São prerrogativas públicas do cargo de “presidente da Câmara”.

Como prerrogativas públicas, não podem ser apropriadas por interesses privados. É como se um policial usasse a viatura pública, que tem finalidade de garantir a segurança da coletividade, para ir à praia com a família. Ou o delegado deixasse de registrar uma queixa porque é contra um parente seu.

Em suma: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, estaria usando da prerrogativa pública para a proteção privada do cidadão Eduardo Cunha. São papéis com direitos e deveres distintos. Não se confundem.

Não é por menos que vários juristas consideram, e já começam a surgir, junto ao Supremo, tentativas de caracterizar esta ilegalidade.

Será prevaricação? Diz o Código Penal, no artigo 319: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Será desvio de finalidade? Diz o artigo 2º, e, da Lei de Ação Popular: o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

Será coação no curso do processo? Diz o artigo 344 do Código Penal: Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral.

Será ofensa ao princípio constitucional da separação de poderes? Tentar impedir que os poderes funcionem livremente?

Quem decidirá é o Supremo.

A jurisprudência sugere que o Supremo dificilmente avaliará se há ou não fato e motivo legal para o impeachment da presidente Dilma. Esta decisão cabe ao Congresso.

Mas certamente será provocado a decidir sobre a legalidade ou não do processo decisório que Eduardo Cunha estaria seguindo. O Ministro Marco Aurélio já está ansioso por tanto.

Se o Supremo decidir que não houve ilegalidade da parte de Cunha, o processo continua. Se ilegalizado, como essa ilegalidade afetará o pedido de impeachment em curso? Afasta-se o Presidente da Câmara? O processo deve parar, ou mesmo assim continuar?

Pode ainda o Supremo não decidir nada. Esperar para ver.

O Supremo nada decidir significa que quem comanda o país é o círculo vicioso da crise econômica e o círculo virtuoso dos mísseis da Lava Jato.

Tem época que o direito molda a política. Em outras, a política molda o direito. Hoje, não sabemos bem.

New York Times diz que a Globo é a TV que ilude o Brasil


Vanessa Barbara*, no International New York Times, via Conexão Jornalismo

No ano passado, a revista “The Economist” publicou um artigo sobre a Rede Globo, a maior emissora do Brasil. Ela relatou que “91 milhões de pessoas, pouco menos da metade da população, a assistem todo dia: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, só se tem uma vez por ano, e apenas para a emissora detentora dos direitos naquele ano de transmitir a partida do Super Bowl, a final do futebol americano”.

Esse número pode parecer exagerado, mas basta andar por uma quadra para que pareça conservador. Em todo lugar aonde vou há um televisor ligado, geralmente na Globo, e todo mundo a está assistindo hipnoticamente.

Sem causar surpresa, um estudo de 2011 apoiado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que o percentual de lares com um aparelho de televisão em 2011 (96,9) era maior do que o percentual de lares com um refrigerador (95,8) e que 64% tinham mais de um televisor. Outros pesquisadores relataram que os brasileiros assistem em média quatro horas e 31 minutos de TV por dia útil, e quatro horas e 14 minutos nos fins de semana; 73% assistem TV todo dia e apenas 4% nunca assistem televisão regularmente (eu sou uma destes últimos).

Entre eles, a Globo é ubíqua. Apesar de sua audiência estar em declínio há décadas, sua fatia ainda é de cerca de 34%. Sua concorrente mais próxima, a Record, tem 15%.

Assim, o que essa presença onipenetrante significa? Em um país onde a educação deixa a desejar (a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico classificou o Brasil recentemente em 60º lugar entre 76 países em desempenho médio nos testes internacionais de avaliação de estudantes), implica que um conjunto de valores e pontos de vista sociais é amplamente compartilhado. Além disso, por ser a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer influência considerável sobre nossa política.

Um exemplo: há dois anos, em um leve pedido de desculpas, o grupo Globo confessou ter apoiado a ditadura militar do Brasil entre 1964 e 1985. “À luz da História, contudo”, o grupo disse, “não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original”.

Com esses riscos em mente, e em nome do bom jornalismo, eu assisti a um dia inteiro de programação da Globo em uma terça-feira recente, para ver o que podia aprender sobre os valores e ideias que ela promove.

A primeira coisa que a maioria das pessoas assiste toda manhã é o noticiário local, depois o noticiário nacional. A partir desses, é possível inferir que não há nada mais importante na vida do que o clima e o trânsito. O fato de nossa presidente, Dilma Rousseff, enfrentar um sério risco de impeachment e que seu principal oponente político, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, está sendo investigado por receber propina, recebe menos tempo no ar do que os detalhes dos congestionamentos. Esses boletins são atualizados pelo menos seis vezes por dia, com os âncoras conversando amigavelmente, como tias velhas na hora do chá, sobre o calor ou a chuva.

A partir dos talk shows matinais e outros programas, eu aprendi que o segredo da vida é ser famoso, rico, vagamente religioso e “do bem”. Todo mundo no ar ama todo mundo e sorri o tempo todo. Histórias maravilhosas foram contadas de pessoas com deficiência que tiveram a força de vontade para serem bem-sucedidas em seus empregos. Especialistas e celebridades discutiam isso e outros assuntos com notável superficialidade.

Eu decidi pular os programas da tarde -a maioria reprises de novelas e filmes de Hollywood- e ir direto ao noticiário do horário nobre.

Há dez anos, um âncora da Globo, William Bonner, comparou o telespectador médio do noticiário “Jornal Nacional” a Homer Simpson -incapaz de entender notícias complexas. Pelo que vi, esse padrão ainda se aplica. Um segmento sobre a escassez de água em São Paulo, por exemplo, foi destacado por um repórter, presente no jardim zoológico local, que disse ironicamente “É possível ver a expressão preocupada do leão com a crise da água”.

Assistir à Globo significa se acostumar a chavões e fórmulas cansadas: muitos textos de notícias incluem pequenos trocadilhos no final ou uma futilidade dita por um transeunte. “Dunga disse que gosta de sorrir”, disse um repórter sobre o técnico da seleção brasileira. Com frequência, alguns poucos segundos são dedicados a notícias perturbadoras, como a revelação de que São Paulo manteria dados operacionais sobre a gestão de águas do Estado em segredo por 25 anos, enquanto minutos inteiros são gastos em assuntos como “o resgate de um homem que se afogava causa espanto e surpresa em uma pequena cidade”.

O restante da noite foi preenchido com novelas, a partir das quais se pode aprender que as mulheres sempre usam maquiagem pesada, brincos enormes, unhas esmaltadas, saias justas, salto alto e cabelo liso. (Com base nisso, acho que não sou uma mulher.) As personagens femininas são boas ou ruins, mas unanimemente magras. Elas lutam umas com as outras pelos homens. Seu propósito supremo na vida é vestir um vestido de noiva, dar à luz a um bebê loiro ou aparecer na televisão, ou todas as opções anteriores. Pessoas normais têm mordomos em suas casas, que são visitadas por encanadores atraentes que seduzem donas de casa entediadas.

Duas das três atuais novelas falam sobre favelas, mas há pouca semelhança com a realidade. Politicamente, elas têm uma inclinação conservadora. “A Regra do Jogo”, por exemplo, tem um personagem que, em um episódio, alega ser um advogado de direitos humanos que trabalha para a Anistia Internacional visando contrabandear para dentro dos presídios materiais para fabricação de bombas para os presos. A organização de defesa se queixou publicamente disso, acusando a Globo de tentar difamar os trabalhadores de direitos humanos por todo o Brasil.

Apesar do nível técnico elevado da produção, as novelas foram dolorosas de assistir, com suas altas doses de preconceito, melodrama, diálogo ruim e clichês.

Mas elas tiveram seu efeito. Ao final do dia, eu me senti menos preocupada com a crise da água ou com a possibilidade de outro golpe militar -assim como o leão apático e as mulheres vazias das novelas.

* Vanessa Barbara é uma colunista do jornal “O Estado de São Paulo” e editora do site literário “A Hortaliça”

CHICO - ARTISTA BRASILEIRO




Presença permanente no cenário cultural e no imaginário coletivo dos brasileiros, pela riqueza de músicas, poemas, dramaturgia e romances construídos ao longo dos últimos 50 anos, Chico Buarque neste filme irá conversar com a própria memoria, mostrar seu cotidiano, seu método de trabalho, seu processo criativo, sua trajetória.




Direção: Miguel Faria Jr.
Elenco: Adriana Calcanhoto, Chico Buarque, Mart’Nália, , Milton Nascimento, Pérciles, Roberta Sá
Nome Original: Chico - Artista Brasileiro
Ano: 2015
Duração: 116 min
País: Brasil
Classificação: 10 anos
Gênero: Documentário


Veja aqui o trailer