07/10/2011

Sebos

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
(Drummond)

Sim, senhor, o mundo é grande e não tenho uma janela sobre o mar. Assim, não sei como é nos outros cantos, só sei aqui em Pompéia é quase impossível comprar um livro. O “quase” deve-se à única banca de jornal da cidade, que de vez em quando até traz uns títulos bonzinhos — O Silêncio dos Inocentes, por exemplo, foi comprado lá na Tio Patinhas. Capa dura, tá pensando o que? [Na verdade, eu não faço muita questão de tipo de capa, de papel, esses detalhes. É bonito, admito, um exemplar bem trabalhado, chique no último grau, mas não é indispensável.]

Antes da chegada da Internet eu adquiria livros em catálogos: o da Ediouro vivia marcado com círculos feitos a caneta sobre os escolhidos do mês; às vezes os tais escolhidos eram tantos que tinham de passar por um novo processo de seleção, seguindo um critério misto entre financeiro e por tópico. Foi por isso que o livro sobre mitologia, mais caro, venceu a competição sobre um romance, menos interessante, certa vez.

Mas agora, com a Internet, chega a ser covardia a quantidade de títulos disponíveis — desde clássicos de domínio público para download grátis até mega-livrarias online, passando pelos sebos.

“Sebo tornou-se, no Brasil, apesar de algumas objeções, a forma vulgarizada para designar livraria onde se vendem livros usados e raros. O local pode ser também uma banca de jornal, ou simplesmente, um calçadão, ou ainda um endereço na internet. Para Aurelio Buarque de Holanda, Novo Dicionário da Lingua Portuguesa, Nova Fronteira, segunda edição, 1986, sebo é a livraria onde se vendem livros usados e tem como equivalente, caga-sebo. Raimundo Magalhães Junior, Dicionário de Provérbios e Curiosidades, segunda edição, Cultrix, 1974, designa não o local, mas o vendedor: “caga-sebo era, no século passado, o nome que se dava aos vendedores de livros usados. As livrarias em que são vendidos volumes de segunda mão são ainda, hoje, chamadas sebo, mas os vendedores passaram a ser sebistas…”. Assim, também é a interpretação de Cândido de Figueiredo, Dicionário de Língua Portuguesa, primeira edição, vol. II, Livraria Bertrand, que define sebo como alfarrabista, o mesmo que caga-sebo.

Melquisedec Pastor do Nascimento, nome que se tornou sinônimo de livros usados não só em Pernambuco, como no exterior, não gosta de ser chamado de sebista, por achar que a palavra deprecia a profissão, que para ele é tão nobre. Ele se define como un vendedor de livros usados e alfineta: se fosse para chamar assim, deveria ser “caga-sebo”, (denominação original) pois “sebo” é apenas uma variação, uma questão eufemística, da expressão inicial, lembrando que o professor de literatura de Belo Horizonte, Eduardo Frieiro, preferia a denominação “livro-velheiro” (Diario de Pernambuco, 5-12-87, caderno “Viver”, seção B pag.11, artigo de Terezinha Pasqualotto, “Há 50 anos Melquisedec vê a vida passar entre os seus velhos livros.”).

O nome sebo vem do tempo em que não havia ainda energia elétrica e as pessoas liam à luz de velas amarelentas, sujando e engordurando os livros. Daí veio o termo ensebado, sebento. Trecho extraído do livro “Guia dos sebos do Brasil” com autorização do autor, Jorge Brito. A obra referida é uma guia muito bem planejada dos principais sebos do Brasil, um guia de viagem para a aventura do “seboso” (assim é chamado o cliente do sebo).”
[Fonte:
Sebo Osório ]

De acordo com Jorge Brito, então, descobri que sou uma sebosa! E uma sebosa eletrônica, ainda por cima. Livros difíceis de achar, ou mesmo livros fáceis mas por um preço muito menor do que um novo, são o grande atrativo dessas lojas. Nunca me arrependi de nenhuma compra. [Um único livro me decepcionou, mas foi culpa da editora e não do sebo. Era um trabalho desleixado, cheio de erros de digitação e pontuação e a diagramação torta feito uma carta datilografada numa máquina de escrever que caiu da mesa -- mas era o único exemplar de Três Ratos Cegos disponível...]

Enfim, a distância das boas livrarias já não é mais desculpa para não se ler um bom livro na cama.

Fonte: http://batatatransgenica.wordpress.com/2004/05/19/sebos/

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