02/03/2011

Melquisedec Pastor do Nascimento

Hoje faz sete dias que ele se foi. Pois é, não teve Padre Cícero, N. Sª. Aparecida, Exu Tranca-Rua, Pomba-Gira e Cabloco Pena Branca que desse jeito. A bem da verdade, ele não acreditava em nada disso, mas um pouco de fé mística, afinal, não faz mal a ninguém.

Pois bem, me pediram pra escrever algo sobre ele e cá estou, sem saber o que dizer…

Sou o caçula de qutro filhos e o que menos conviveu com ele. Apesar disso, o sinto em cada célula do meu corpo, os trejeitos, o (mal) humor, a maneira de sentar-se, a rigidez no cumprimento das regras. Todas elas! O senso de justiça, o agnosticismo… Deve ser genético mesmo. É claro que mamãe contribui pra parte disso, educando-me da maneira que ela aprendeu com papai. Afnal, ele foi quem terminou de criá-la…

Digo isso de mim, mas tenho certeza que se aplica a todos nós quatro, filhos de “Seu” Melqui, Mel, Dec… recifense, nascido em 3 de janeiro de 1921. Começou a estudar numa Escola Particular Mixta, lendo na Carta de ABC de Landelino Rocha. Muito pobre, Vovó Laura o criou sozinha.

Depois que aprendeu, passou a ler folhetos de feira, almanaques de farmácia e jornais. Depois revistas e livros. Por causa deles, foi ao sebo de Manoel Berlamino da Silva, e acabou por ser o maior livreiro do Brasil. Considerava a profissão a mais digna de todas as profissões.

Sensível à questão social desumana, tornou-se um homem de esquerda, a única pauta para julgar a conduta humana, verificar se contribue ou se opõe à causa do socialismo.

Em 1997 concedeu entrevista a Clóvis Campêlo e disse:

“Para finalizar, uma mensagem aos leitores pipoqueiros: é preciso ler, é preciso ir aos sebos, santuários de raridades bibliográficas a preço de sebo. Além do mais, é preciso entender que o conceito ideal de cultura é personalizar o indivíduo, desenvolver o raciocínio e a imaginação. Integrá-lo na educação e na cultura, refinar-lhe o espírito. Prepará-lo para a vida".

Esse era nosso pai. Um exemplo pra nós todos.

Um comentário:

  1. Por favor, escreva mais, fale mais sobre Melquisedec. Histórias dele, casos e causos.
    Ele faleceu de quê? Com quem fica a sua única riqueza, os livros? O que será feito do sebo na Praça?
    Eu gostaria de escrever sobre ele a partur do depoimento dos filhos. E publicarei nos sites e blogs de onde sou colunista.
    Abraço fraterno.

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