07/01/2011

Dia beliche

Do meu irmão Balu.

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Preciso de um dia beliche. Sabe? Aquelas camas montadas uma sobre a outra para aproveitar melhor o espaço. Já falei isso outras vezes, mas nunca foi tão verdadeiro. Preciso de um dia oficial, de 24 horas, na cama de baixo. E outro, extra-oficial, na cama de cima, com 48 horas.

Eu sempre achei a cama de cima melhor, mas como fui sonâmbulo na infância e na adolescência, fiquei proibido de dormir na cama de cima. Uma vez, nas férias, até tentei. Mas caí da cama no meio da noite, para susto dos outros três que dividiam o quarto comigo, em dois beliches.

O dia extra-oficial é o mais divertido, por isso teria que oferecer mais horas. Tempo para ler, para estudar, para escrever, desenhar, pintar, vagabundear (lembrem-se, o ócio é criativo!) e amar. Amar muito, oficialmente, é claro (mas na cama de cima). Quer dizer...

Está aí uma provável incompatibilidade. Peso 130 quilos. A patroa não é leve (falei bonito). Os dois juntos na cama de cima representam um risco potencial para que estiver na cama debaixo. Como na cama inferior estaria o dia oficial, em caso de acidente eu seria acusado de premeditação.

Matar um dia oficial por um extra-oficial de 48 horas não é lá um mau negócio. Mas isso não está em questão no momento. Eu mal tenho tempo no dia oficial para fazer tudo o que preciso. Aliás, estou aqui conjeturado e o relógio segue seu curso circular, implacável. Melhor parar de perder tempo.

É que eu estou em vias de fazer uma besteira em nome da falta de tempo e resolvi dar uma paradinha para ver se consigo acertar alguns ponteiros. Falta disposição, cabeça (e tempo, é evidente) para compatibilizar a vida em família, o trabalho e o estudo.

É comum cortar dentista, médico e estudo na hora do aperto em países subdesenvolvidos (o eufemismo é “em desenvolvimento”). Agi automaticamente: “melhor parar de estudar” (isso é a minha cabeça da cama debaixo pensando).

Mas como desfruto de uma certa mordomia em uma cama de cima virtual, histórica e eventualmente disponível (não pensem que sou louco, essa é uma das vantagens de quem é multimídia) parei de pensar no axioma contas-menos-tempo-mais-afazeres-mais-cansaço e fui ler alguns textos teóricos.

Desculpem, não é arrogância. Estou na fase de caldeira intelectual (politicamente incorreto, porque faço uma fumaça daquelas...). Estudo, pois preciso de muitos neurônios para avançar milímetros em meus recordes olímpicos. Não avancei nenhum milímetro, é bom destacar. Mas continuo tentando.

Bom, a questão é que continuo em dúvida. Paro ou não paro de estudar?

Eu até já havia decidido parar. E, metaforicamente, estava ajoelhado diante de meu testamento, pronto para o seppuku (harakiri), fora de mim, já naquela esfera superior de quem está partindo, quando tocou o meu telefone e era a minha orientadora, danada da vida. “você não pode parar; isso é um absurdo; e patati e patatá...”

Para ela é fácil dizer. Afinal, consegue compatibilizar o trabalho de professora em escola pública, com a coordenação do curso de pós-graduação (quatro turmas), atuar como orientadora de alguns loucos como eu e estudar para doutorado (é doutoranda em fase de produção da tese). Além disso, tem tempo para dançar, ir a shows, correr, chacoalhar, nadar e, coitada, torcer para o Corinthians.

Não tenho dúvida nenhuma que ela já encontrou a fórmula para o beliche das tarefas diárias. Suspeito, até, que tenha um triliche (quem sabe quadri). E também sei que ela não desiste fácil.

Por isso, vou ficar por aqui a matutar como fazer para:

a) fugir dela

b) fugir de mim mesmo

c) alinhar as agendas e seguir tocando o barco.

Na próxima crônica informo o que aconteceu.

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