20/02/2008

Seu Melqui

16/11/2004 20:56

Referência internacional no mercado de livros usados, o pernambucano Mequisedec Nascimento, 80 anos, tem sempre um poema “na ponta da língua” para responder aos fregueses que procuram seu box no centro do Recife

por ADRIANA SANTANA
Especial para o JC

Ele é o ‘rei do mundo’ no nome e ‘maior livreiro do Brasil’ na definição dos participantes do I Congresso Internacional de Literatura Nordestina. Em meio a uma montanha de livros sem quantidade definida - “nunca me preocupei em contar as minhas preciosidades” -, Melquisedec Pastor do Nascimento, 80 anos e há seis décadas no ramo do sebo, já se tornou sinônimo de livros usados. Nas suas mãos, estão de raridades como o Petit Dictionaire De Cuisine (1897), de Alexandre Dumas, a simples guias culinários.

Para quem chega perguntando por Confesso que Vivi, de Pablo Neruda, ele rebate com um poético “confesso que não tenho”. Aquele que procura por obras de Florbela Espanca vai ouvir como resposta: “só o nome já é um poema”. E é assim que ‘Melqui’ vai atendendo a seus clientes, recitando um poema ou contando particularidades sobre autores e obras, num cubículo quase escondido no centro da cidade. Não importa se conceituados artistas e intelectuais ou estudantes. A todos ele trata com o mesmo método, não importando se irá explicar sobre uma “rara edição secular, em dois volumes, de Dom Quixote, que deve valer pelo menos R$ 5 mil”, ou sobre onde poderá ser encontrada tal gramática.

Menino criado em meio aos ‘xiés’ do Rio Capibaribe, que estudou por apenas sete meses, Melquisedec tem na prolixidade e no espantoso conhecimento literário as suas marcas registradas. “O Brasil possui uma limitação intelectual terrível. Há mais de 200 mil vocábulos na língua portuguesa, mas só se usam 2 mil, e excessivamente”, alfineta. Para ele, não custaria nada trocar o “falar pelo dizer, o conversar pelo entrevistar”.

Além da pobreza vocabular, o que o “vendedor de livros usados” - na sua própria definição - não tolera é a pressa. É de opinião que “quem acredita em Deus não precisa correr contra o tempo”. Não se pode mesmo ir apressado a uma visita ao box de ‘seu Melqui’, sob pena de se perder ensinamentos preciosos em troca de poucos minutos. “É preciso uma pitada de poesia em tudo o que se faz”, conclui.

Melquisedec - Praça do Sebo s/n Box 10. Rua da Roda, Santo Antônio. Fones 3224.8064 e 3231.2142

Nenhum comentário:

Postar um comentário