20/02/2008

Bilhete às meninas

27/11/2004 11:07

Li essa crônica do meu irmão Balu e resolvi compartilhar com vcs. Nos meus links tem o endereço do Blog dele. Recomendo!

Bilhete às meninas

Nós, homens, somos muito complexos, apesar das análises femininas que nos rebaixam a animais brutos e simples.

Mora dentro de cada de um de nós um menino recolhido, medroso e quieto que assiste assustado aos acontecimentos do mundo. Aprendemos a falar aos gestos, a ocupar espaços e a encantar pessoas. Descobrimos vocações, inspirações e muitas forma de amar. Escolhemos pessoas, clubes, antipatias e remédios. Mas no fundo continuamos meninos.

Os homens são meninos que não puderam crescer.

Não pense que foi por falta de esforço ou sensibilidade. A chuva escorre pela terra e marca as superfícies com a erosão dos tempos. As pedras alisam nas cachoeiras ao sabor do rolar dos anos. O mar modifica a praia apesar das marinas e dos diques ou até em função deles. É assim conosco, também. Os homens foram formados pelos elementos da sociedade. Restaram apenas as marcas.

Não adianta querer que entendamos as mensagens cifradas pela TPM ou a suas variações de humor por causa da sopa de hormônios. Não vamos entender nunca. De nada servem os livros e os tratados (muitas vezes lidos e relidos à exaustão) se a prática ensinou outros alfabetos, outros idiomas. Besteira acreditar que seremos femininos na maneira de nos entregar ao mundo e de recebê-las. Somos duros porque nos deram armaduras para guerras medievais e porque são esses homens que vocês de fato foram treinadas a procurar.

Meninos abandonados pela supressão da espontaneidade, fomos criados para trocar lâmpadas, abrir potes de palmito, matar aquela maldita barata atrás do sofá e posar de fortes ao lado de nossas meninas diante de outros machos. Dirigimos, comandamos e brigamos, mas, no fundo, continuamos meninos e fracos e frágeis. Somos cenográficos. E a nossa essência não mora nos andaimes do cenário.

Se você quiser conhecer a profundidade de um homem, terá que mudar os critérios de análise. Ligamos e desligamos apenas com dois botões, é verdade. Mas é a competência da operadora que vai determinar o tempo de funcionamento. Não se trata de usar lingeries emperequetadas ou decotes deslumbrantes. Nem basta o sorrir pelos olhos e o tocar suave. Também não falo de malabarismos olímpicos ou posições decoradas do Kama Sutra. Falo da maneira de permitir que o menino saia do seu esconderijo.

E o menino assustado só aparece para as mulheres que se permitem aceitar: em sua essência, também são recolhidas, medrosas e quietas. Porque vocês também foram criadas para exercerem funções cenográficas. Precisam ser fortes, intuitivas, sensitivas e maternais. Foram treinadas para que abramos as portas, concedamos a passagem e joguemos nossos paletós nas poças de lama. mas também foram criadas para cuidar da casa, conter os desejos e fingir de mortas, ás vezes. No fundo, as meninas não são nada vitorianas mas precisam se esconder em prisões de rendas.

Vocês já experimentaram colocar seus meninos nos colos e cantar cantigas de ninar para que o Boi da Cara Preta vá embora deste lugar? Vocês já tentaram sinceramente permitir que o menino saia? Estão preparadas para isso?

Pode ser que alguns meninos não consigam mais sair de seus cativeiros. utros vão precisar de muito tempo para a adaptação necessária no ambiente iluminado. Mas vale a pena tentar.

Mauricio Cintrão

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