Meus bons amigos!
Como era de se esperar, estamos partindo de Ituiutaba
Vocês são testemunhas que eu tentei ficar, afinal, a cidade e os amigos que aqui fizemos são encantadores. Tudo conspirava para que ficássemos: o clima (apesar da baixa umidade), a tranquilidade, a qualidade de vida... Mas não vivemos só disso. É preciso ter o vil metal e estava cada vez mais difícil conseguí-lo por aqui. Por isso estamos de “mala e cuia” nos mudando para o Recife. Elga conseguiu um bom emprego lá e eu estou de volta ao meu escritório.
Saibam, porém, que jamais esquecerei qualquer um de vocês. Cada um com sua peculiariedade, estão guardados dentro do meu coração e lá ficarão por toda a eternidade (pelo menos enquanto eu viver, hehehehe).
Para acabar com essa ladainha, compartilho com vocês um texto de Martha Medeiros que eu gostaria de ter escrito
Beijos nas minas e abraços nos manos.
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Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo contruído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.
Martha Medeiros